Devido à rotação.
Primeiro se ensina que a Terra é redonda, tal como Aristóteles percebeu no século IVa.C.; depois se aprende que ela não é redonda, mas elíptica, tal como previu Newton, no século XVII; depois se aprende que não é elíptica, porque um dos pólos é mais achatado que o outro, como ficou constatado no século XX, com medições por satélite; depois se aprende que além de um dos pólos ser mais achatado que o outro, existem diversas protuberâncias no equador e em outras latitudes, como ficou constatado depois de muitas medidas de alta precisão, usando vários satélites. Por fim, aprende-se que a Terra é um geóide-elipsóide tri-axial com diversas pequenas irregularidades. Não precisaríamos de alta tecnologia para perceber isso; bastaria olhar em nosso redor, para chegar à essa conclusão (sobre as irregularidades), mas essa conclusão diz muito pouco sobre a forma do nosso planeta e é muito mais importante saber que a Terra é redonda do que saber que ela tem irregularidades, porque as irregularidades são evidentes, mas para perceber que ela é redonda Aristóteles precisou associar o fato de os cascos dos navios desaparecerem antes dos mastros, quando os navios se afastam, e isso acontece em qualquer direção (se fosse apenas num par de direções, a Terra poderia ser um cilindro, como pensara Anaximandro, dois séculos antes). Também é importante perceber que ela é uma elipse, como resultado forças concorrentes, e que um pólo é mais achatado que o outro, devido à distribuição heterogênea das massas continentais (há mais continentes no Hemisfério Norte que no Hemisfério Sul, portanto a altura média é maior), é importante perceber que existem protuberâncias e irregularidades, como resultado de efeitos geológicos, acidentes (colisões com meteoros), librações etc. Se fizermos um desenho da Terra numa folha de papel, ela não poderia ser distinguida de um círculo, porque num desenho com raio de 30mm (~bola de bilhar) o achatamento polar seria 0,1mm (espessura de uma folha de papel) e se todas as irregularidades (Monte Everest, K2, Fossa das Marianas etc.) fossem representadas numa maquete do tamanho de uma bola de bilhar, essa maquete ainda seria mais lisa e teria um aspecto mais perfeito (em relação a uma esfera) que uma bola de bilhar típica. Portanto é muito satisfatório ensinar a uma criança que a Terra é esférica. Para o adolescente que já aprendeu o que é uma elipse, pode ser conveniente fornecer dados mais acurados, e para quem vai pesquisar o assunto é necessário conhecer todos os dados disponíveis. Analogamente, se você lançar uma pedra para cima e usar g=10m/s^2, seu cálculo sofrerá muito mais prejuízo devido à viscosidade do ar do que devido às variações em função da altitude. Se em vez de jogar algo para cima você usar um sistema estático (gravímetro), vai anular o efeito do ar e obter resultados diferentes em altitudes diferentes. Se você lançar um foguete a alguns milhares de quilômetros de altitude, também vai poder constatar que a fórmula que presume g constante não funciona bem. No entanto o livro didático está presumindo que você tem à mão uma pedra, mas não um gravímetro ou um foguete. Para a esmagadora maioria das pessoas que vai ler esse livro didático, a fórmula simplificada já constitui uma dificuldade excessiva e poucas vezes essas pessoas conseguem perceber, pelo enunciado, qual fórmula deve ser aplicada. Só uma quantidade bem pequena de alunos vai entender com facilidade a fórmula e se questionar sobre sua validade. E quem escreve livros didáticos geralmente está preocupado em atender às necessidades da maioria.